12.2.09

A Menina Que Roubava Livros


Entre 1939 e 1943, Liesel Meminger encontrou a morte três vezes. E saiu suficientemente viva das três ocasiões para que a própria, de tão impressionada, decidisse nos contar sua história, em A menina que roubava livros. Desde o início da vida de Liesel na rua Himmel, numa área pobre de Molching, cidade próxima a Munique, ela precisou achar formas de se convencer do sentido de sua existência. Horas depois de ver seu irmão morrer no colo da mãe, a menina foi largada para sempre aos cuidados de Hans e Rosa Hubermann, um pintor desempregado e uma dona-de-casa rabugenta. Ao entrar na nova casa, trazia escondido na mala um livro, O manual do coveiro. Num momento de distração, o rapaz que enterrara seu irmão o deixara cair na neve. Foi o primeiro dos vários livros que Liesel roubaria ao longo dos quatro anos seguintes. E foram esses livros que nortearam a vida de Liesel naquele tempo, quando a Alemanha era transformada diariamente pela guerra, dando trabalho dobrado à Morte. O gosto de roubá-los deu à menina uma alcunha e uma ocupação; a sede de conhecimento deu-lhe um propósito. E as palavras que Liesel encontrou em suas páginas e destacou delas seriam mais tarde aplicadas ao contexto da sua própria vida, sempre com a assistência de Hans, acordeonista amador e amável, e Max Vanderburg, o judeu do porão, o amigo quase invisível de quem ela prometera jamais falar. Há outros personagens fundamentais na história de Liesel, como Rudy Steiner, seu melhor amigo e o namorado que ela nunca teve, ou a mulher do prefeito, sua melhor amiga que ela demorou a perceber como tal.
Eles não são maus. Eles são gente. E, mesmo no meio da miséria e do medo, Liesel descobre que precisa ler. Ela e o pai adotivo - um daqueles personagens tão gentis e perfeitos que conquistam de imediato - se empenham na tarefa de melhorar as habilidades da menina no mundo das letras. E a necessidade de Liesel é tão grande que, mesmo com fome, ela deixa de roubar comida para roubar livros, agarrando-se, sem saber, àquilo que realmente fará diferença em sua vida. A história de Liesel é narrada pela Morte. Isso mesmo, a ceifadora. Ela também se encantou pela menina, nas vezes em que estiveram próximas ao longo da vida. E a Morte se revela uma narradora charmosa, delicada e até espirituosa. Ela também não é má - apenas cumpre ordens... Gosto de Liesel porque me reconheço um pouco em seu vício em leitura. Um judeu no porão, um acordeon na madrugada, um garoto que corre com o rosto pintado de preto, um beijo negado que dói tanto, o irmãozinho que morre no trem, um livro salvo da fogueira, maçãs roubadas, um livro escrito à mão sobreposto às palavras de Hitler, uma benfeitora amargurada... é uma história das boas.
(Autor: Markus Zusak Editora: Intrinseca)

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