24.2.09

Flores do Mal


Ninguém falou tanto da morte, para cantar a vida e o amor, como Charles Baudelaire. O poeta francês foi, talvez, o maior pintor da existência no limite; marginalidade, paixão, sexo, drogas (ópio, absinto), perdição, homens errantes, prostituição, literatura, obsessões. Tudo está na obra do inventor da modernidade. Poucas poesias têm cheiro e tantas marcas da vida real. Em Baudelaire, é possível sentir o odor de álcool, de sêmen, o perfume das passantes, a viscosidade do suor, o hálito noturno dos boêmios, a mão carinhosa das mulheres da noite. A "alma das garrafas" assombra cada verso e incendeia o desejo dos leitores. Flores do Mal, o amor segundo Baudelaire, permitiu-se uma mínima travessura - não ter sumário. Cada procura, na riqueza da edição bilíngüe, é um lance na vastidão da poesia, um salto no escuro, descoberta ao acaso, uma navegação sem bússola, um risco de sempre cair no melhor. Numa espécie de jogo da amarelinha poético, salta-se de casa em casa, retrocedendo, avançando, entre o inferno e o céu, mas sempre no paraíso de uma arte maldita por ser profundamente coloquial e cotidiana. Poesia como jogo e razão de viver.

(Charles Baudelaire; Editora: Sulina)

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