3.3.09

O Som do Pasquim


O Pasquim de Tarso de Castro, Jaguar, Paulo Francis e companhia entrou para a história como o jornal que peitou a ditadura usando apenas o humor e a irreverência como armas. E deixou como herança documentos memoráveis de sua época em forma de entrevistas. O crítico e historiador Tárik de Souza separou algumas delas, com cantores e compositores que faziam alguma diferença nos anos 1970 e organizou o livro O Som do Pasquim. Que acaba de sair. Estão lá Antonio Carlos Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque, Luiz Gonzaga, Lupicínio Rodrigues, Raul Seixas, Moreira da Silva e Waldick Soriano..É uma delícia para ser lido num fôlego só. Como a maioria das entrevistas foi feitas em bares e restaurantes da zona sul carioca, regadas a uísque, cachaça e vodca, nada deixou de ser perguntado e respondido. Chico, por exemplo, entregou tudo, até mesmo seu passado como ladrão de carro no bairro do Pacaembu. Jaguar chegou a provoca-lo, dizendo que A Banda era uma das músicas mais chatas da história da MPB. Chico concordou. Waldick Soriano, o rei da cafonice, aceitou ser sabatinado . Waldick era um homem à moda antiga - "A fêmea é comandada pelo macho, entende? Num casal de passarinhos o macho manda; a vaca teme o boi,é assim"- ,mas autêncio. Em tempos de politicamente correto, seria preso pela frase: "A mulher que qualquer cor é gostosa. Mas uma crioula é gostosa pra cahorro. Eu não sei por que que toda crioula é mais quente que qualquer branca".Waldick sofreu com as mulheres. E vice-versa. E ninguém entendia mais de dor de corno que Lupicínio, o compositor gaúcho de Nervos de Aço. "Os pássaros cantavam, quando o rei da dor-de-cotovelo deu a receita para a felicidade: É melhor brigar junto do que chorar separado". Genial.O livro é cheio de revelações. Luiz Gonzaga, por exemplo, confessou que era doido por Lampião e, veja só, quase virou um sanfoneiro oficial do bando, aos 16 anos. Mas na última hora o cangaceiro desviou do caminho para Araripe para ver Padre Cícero em juazeiro. Raul Seixas fala de seus anos de fome no Rio de Janeiro, Tom Jobim conta detalhes de sua primeira relação sexual e Moreira da Silva explica como virou Kid Morangueira. Para ler em silêncio, ao som de bossa nova e de olho nas ilustrações assinadas por Bássara, mestre do traço.

(organizador: Tarik de Souza; Editora Desiderata)

0 comentários:

Postar um comentário

 

Quer ler? Eu deixo. Copyright 2008 All Rights Reserved Revolution Two Church theme by Brian Gardner Converted into Blogger Template by Bloganol dot com