19.3.09

Fugalaça


Mayra Dias Gomes estreiou na literatura desenhando um retrato da juventude contemporânea e de seu desespero. Com linguagem pop, ágil e atual, ela narra a surpreendente história de Satine, espécie de alter-ego que mergulha fundo no clichê sexo, drogas e rock’n’roll após perder o pai aos 11 anos e ver sua vida tomar novos rumos.
Ao mesmo tempo romance e suspense.
Todo mundo se identifica em algum momento com Satine. Desde a falta do pai até o amor insano, a busca incessante pela felicidade.Com palavras simples um linguajar agradável,a autora consegue mesclar romance,dor, humor.Um mergulho no inferno que se fez poesia e redenção.Inspirada na própria vida, Mayra Dias Gomes retrata em Fugalaça uma juventude desesperada, sem perder o humor.
Até os 17 anos, Mayra Dias Gomes não parecia interessada em seguir a carreira do pai, o dramaturgo, romancista e autor de novelas Dias Gomes. Na verdade, não parecia interessada em seguir caminho nenhum - sem o pai desde os 11 anos (morto em um acidente de carro em São Paulo), a carioca viveu uma temporada com a mãe, Bernadeth Lyzio, nos Estados Unidos até apostar em um percurso pessoal.
Inicialmente, Mayra dividiu-se entre o Rio e São Paulo, estudando em supletivos e descobrindo as tentadoras atrações da noite e seu paraíso artificial, como música e drogas. A diversão, no entanto, era apenas aparente: em um ambiente que exibia descontração, Mayra ressentia-se ainda de sua introspecção, agravada com o distanciamento do pai que pouco conseguiu conhecer.
Sua salvação foi escrever um romance, que, em meio à felicidade aparente oferecida por ecstasy e por uma paixão não correspondida por um roqueiro, escreveu Fugalaça, retrato da juventude contemporânea e de seu desespero. Foi uma experiência necessária, pois enfrentou seus pavores até descobrir a verdadeira liberdade.' Em outras palavras, 'limpar o presente'.
Se o resumo da história não inspira nenhuma novidade literária (há, até, um excesso de detalhes), a franqueza da autora e o fôlego de sua escrita são promissores. 'Há dor, há confronto, conflito, cinismo, humor e coragem neste livro', observa a também escritora Fernanda Young, no texto de apresentação. 'O inferno que Mayra Dias Gomes relata, ou denuncia, só faz sentido ao tornar-se poesia. E poesia sobrevive à perda.'
De fato, o relato tem o tom de redenção. A prática da escrita sempre a acompanhou, desde escrever diários durante boa parte de sua existência, até o típico exercício do moderno escritor que é a manutenção de um blog, mas agora ela está mais serena.
O próximo livro, por exemplo, não terá drogas, sexo ou rock. Também terá uma gestação menos tumultuada - para Fugalaça, ela conta que viveu uma rotina pouco usual. 'Primeiro, escrevia muito e jogava tudo fora, pois não encontrava um eixo. Até que, cansada de não sair do lugar, resolveu produzir sem parar, escrevendo freneticamente e só parava quando atingisse a metade da história. Quando chegou a esse ponto e, finalmente, leu o que estava pronto, sentiu-se satisfeita com o resultado.
Mayra pretende ainda honrar a tradição literária iniciada pelo pai. Jura não se sentir intimidada pelo gigantismo da obra dele. E, se não segue pelo mesmo caminho, lembra a principal característica que ganhou do trabalho de Dias Gomes: a honestidade.

(Mayra Dias Gomes; Editora Record)

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